Canguçu On Line inicia série de reportagens especiais sobre casos de dependência química no Município, um mal tratado como doença pelas famílias, mas que enfrenta pré-julgamento da sociedade
O esforço para tirar os filhos do caminho das drogas uniu as mães Tânia Lessa e Ceni Aquino. Elas se conheceram durante reuniões de comunidades terapêuticas que atendem famílias com dependentes químicos, como a Renascer, situada no 9º Distrito de Pelotas. Gerente de uma loja de calçados no Centro de Canguçu, Tânia visita semanalmente o local há oito meses para debater com outras famílias, de diferentes regiões do Estado, o drama vivido em casa.
O jornal Canguçu On Line inicia nesta quarta-feira (25) uma série de reportagens especiais que vai provocar a discussão de um assunto que perturba muitas famílias: a dependência química. Grande parte daquelas que convivem com o vício pelas drogas tóxicas ainda se esforça para fechar os olhos diante do problema e, com isso, evitar o pré-julgamento da sociedade.
Hoje o filho da dona Ceni tem 32 anos. Em um passado recente, ele passou por um ano de internação na Casa Amor Exigente (Caex), instalada às margens da BR-116, em Pelotas. Agora, ele encontra-se “limpo” - gíria usada para indicar quem deixou o vício das drogas – há sete meses, e comemora o fato de estar empregado.
Com 16 anos, o filho de Tânia começou a fumar maconha. O envolvimento de Cristiano Lessa com as drogas evoluiu até o momento em que família consentiu que a rígida vigília feita sobre sua rotina não o afastava do vício.
- Por mais de três vezes o tirei de dentro de outras casas, quando estava se drogando. Nossa família, meus tios, meus irmãos, fecharam o cerco contra ele. O seguíamos de carro ou de moto à noite até os locais que costumava se reunir com outros usuários – revela Tânia.
No entanto, depois que foi promovido na empresa onde trabalhava e passou a morar sozinho em um apartamento em Pelotas, ficou mais fácil para o jovem driblar a vigília dos pais. As aulas do curso superior de Análise de Sistemas deixaram de ser importantes. Da maconha, ele passou a experimentar cocaína e se perdeu ainda mais. Foi a mudança de comportamento que chamou a atenção da mãe e do pai, Rui.
- Ele (o filho Cristiano) teve duas recaídas com a cocaína. Quando isso acontecia, ele dormia direto. Durante três dias, não levantou. Ficava com poças de sangue nos olhos e as narinas vermelhas – diz a mãe, ao recordar de um dos momentos em que flagrou o filho sob o efeito de drogas.
As tentativas de conversa para buscar tratamento para o filho acabavam em poucos minutos. O jovem não aceitava o pedido, e dizia que a mãe via situações que não existiam, e ainda colocava-se à disposição para fazer exames médicos. Dizia que “era só maconha”, o que considerava “menos ofensiva que um cigarro”. O diálogo sempre se encerrava com a palavra de Cristiano, que dizia estar tudo bem.
Mesmo assim, o sentimento de mãe não deixava Tânia se enganar. As vistorias pela casa á procura de drogas e sinais de comportamento do filho tornaram-se rotina.
- Ele nunca se atreveu a levar nada (de drogas) para dentro de casa. Eu era como um cão farejador, revisava tudo dentro dos quartos, da garagem. Ele tinha que esconder muito bem, senão eu encontrava – diz Tânia.
Em dezembro do ano passado, já com 23 anos, o processo de recuperação de uma fratura no pé não impediu Cristiano de correr atrás do vício pela cocaína. Contudo, foi a primeira vez, depois de sete anos consumindo drogas, que ele procurou os pais e pediu ajuda para iniciar o tratamento de reabilitação.
Há dois meses internado na Comunidade Terapêutica Renascer, Cristiano se comunica todas as terças-feiras com a família por cartas. No entanto, o primeiro contato demorou 15 dias, até que o dependente químico decidiu escreveu aos pais. Com ansiedade, a família aguarda a chegada do segundo domingo de cada mês. É a oportunidade de visitar o filho na Comunidade, embora o período de contato seja limitado a sete horas .
A evolução no comportamento de Cristiano anima Tânia. Segundo ela, os coordenadores da Renascer dizem que ele não mostra mudança de humor, nem sinais de depressão, o que seria comum neste começo. A busca por tratamento exige disciplina e persistência. Em dois meses convivendo com o grupo, Cristiano já presenciou a desistência de outros 12 dependentes químicos, que fugiram a pé do local.
A previsão é de que ele permaneça na Comunidade Terapêutica Renascer por 12 meses. Caso seja necessário, o período pode ser estendido para 15 meses. A dedicação da família é apontada como fundamental para a recuperação do filho.
- A família precisa freqüentar o grupo de ajuda. Ela assume uma doença que é a co-dependência e também precisa de tratamento. Os familiares precisam saber lidar com o dependente químico, aprender a falar a mesma língua que ele – explica a mãe, reproduzindo uma das lições aprendidas nestes oito meses de convívio com outras famílias.
Formação de grupo de ajuda em Canguçu
Unidas pela vontade de ver os filhos evoluírem o tratamento contra o uso de drogas, as mães Tânia e Ceni sonham com a construção de um espaço físico em Canguçu para atender grupos de auto-ajuda. Com isso, as famílias com casos de dependência química não teriam de se deslocar semanalmente até Pelotas para participar do programa que apresenta os 12 passos que ensinam a lidar com a situação dentro de casa.
Nestas reuniões, as famílias falam abertamente sobre os dramas vivenciados e as tentativas de afastar os parentes e amigos do vício. São orientações que, muitas vezes, tornam-se hábitos por parte dos freqüentadores.
Doações para ampliação da Comunidade Renascer
Para aumentar o espaço de instalação de dependentes químicos, a Comunidade Terapêutica Renascer, onde Cristiano está internado, busca doações de material de construção, como tijolos, telhas e sacos de cimento. Interessados em colaborar com o centro de reabilitação podem procurar Tânia Lessa pelo telefone (53) 3252-2475.
Próxima reportagem: a reinclusão na sociedade aos 21 anos
A próxima reportagem da série sobre o drama enfrentado pelas famílias de dependentes químicos em Canguçu contará a história de um jovem que respondeu positivamente ao tratamento e, com 21 anos, mantém uma rotina de dedicação para evitar a recaída. Ele esteve internado na Casa Amor Exigente (Caex) de Pelotas depois de consumir maconha e crack dos 11 aos 18 anos.
Fonte: cangucuonline
O esforço para tirar os filhos do caminho das drogas uniu as mães Tânia Lessa e Ceni Aquino. Elas se conheceram durante reuniões de comunidades terapêuticas que atendem famílias com dependentes químicos, como a Renascer, situada no 9º Distrito de Pelotas. Gerente de uma loja de calçados no Centro de Canguçu, Tânia visita semanalmente o local há oito meses para debater com outras famílias, de diferentes regiões do Estado, o drama vivido em casa.
O jornal Canguçu On Line inicia nesta quarta-feira (25) uma série de reportagens especiais que vai provocar a discussão de um assunto que perturba muitas famílias: a dependência química. Grande parte daquelas que convivem com o vício pelas drogas tóxicas ainda se esforça para fechar os olhos diante do problema e, com isso, evitar o pré-julgamento da sociedade.
Hoje o filho da dona Ceni tem 32 anos. Em um passado recente, ele passou por um ano de internação na Casa Amor Exigente (Caex), instalada às margens da BR-116, em Pelotas. Agora, ele encontra-se “limpo” - gíria usada para indicar quem deixou o vício das drogas – há sete meses, e comemora o fato de estar empregado.
Com 16 anos, o filho de Tânia começou a fumar maconha. O envolvimento de Cristiano Lessa com as drogas evoluiu até o momento em que família consentiu que a rígida vigília feita sobre sua rotina não o afastava do vício.
- Por mais de três vezes o tirei de dentro de outras casas, quando estava se drogando. Nossa família, meus tios, meus irmãos, fecharam o cerco contra ele. O seguíamos de carro ou de moto à noite até os locais que costumava se reunir com outros usuários – revela Tânia.
No entanto, depois que foi promovido na empresa onde trabalhava e passou a morar sozinho em um apartamento em Pelotas, ficou mais fácil para o jovem driblar a vigília dos pais. As aulas do curso superior de Análise de Sistemas deixaram de ser importantes. Da maconha, ele passou a experimentar cocaína e se perdeu ainda mais. Foi a mudança de comportamento que chamou a atenção da mãe e do pai, Rui.
- Ele (o filho Cristiano) teve duas recaídas com a cocaína. Quando isso acontecia, ele dormia direto. Durante três dias, não levantou. Ficava com poças de sangue nos olhos e as narinas vermelhas – diz a mãe, ao recordar de um dos momentos em que flagrou o filho sob o efeito de drogas.
As tentativas de conversa para buscar tratamento para o filho acabavam em poucos minutos. O jovem não aceitava o pedido, e dizia que a mãe via situações que não existiam, e ainda colocava-se à disposição para fazer exames médicos. Dizia que “era só maconha”, o que considerava “menos ofensiva que um cigarro”. O diálogo sempre se encerrava com a palavra de Cristiano, que dizia estar tudo bem.
Mesmo assim, o sentimento de mãe não deixava Tânia se enganar. As vistorias pela casa á procura de drogas e sinais de comportamento do filho tornaram-se rotina.
- Ele nunca se atreveu a levar nada (de drogas) para dentro de casa. Eu era como um cão farejador, revisava tudo dentro dos quartos, da garagem. Ele tinha que esconder muito bem, senão eu encontrava – diz Tânia.
Em dezembro do ano passado, já com 23 anos, o processo de recuperação de uma fratura no pé não impediu Cristiano de correr atrás do vício pela cocaína. Contudo, foi a primeira vez, depois de sete anos consumindo drogas, que ele procurou os pais e pediu ajuda para iniciar o tratamento de reabilitação.
Há dois meses internado na Comunidade Terapêutica Renascer, Cristiano se comunica todas as terças-feiras com a família por cartas. No entanto, o primeiro contato demorou 15 dias, até que o dependente químico decidiu escreveu aos pais. Com ansiedade, a família aguarda a chegada do segundo domingo de cada mês. É a oportunidade de visitar o filho na Comunidade, embora o período de contato seja limitado a sete horas .
A evolução no comportamento de Cristiano anima Tânia. Segundo ela, os coordenadores da Renascer dizem que ele não mostra mudança de humor, nem sinais de depressão, o que seria comum neste começo. A busca por tratamento exige disciplina e persistência. Em dois meses convivendo com o grupo, Cristiano já presenciou a desistência de outros 12 dependentes químicos, que fugiram a pé do local.
A previsão é de que ele permaneça na Comunidade Terapêutica Renascer por 12 meses. Caso seja necessário, o período pode ser estendido para 15 meses. A dedicação da família é apontada como fundamental para a recuperação do filho.
- A família precisa freqüentar o grupo de ajuda. Ela assume uma doença que é a co-dependência e também precisa de tratamento. Os familiares precisam saber lidar com o dependente químico, aprender a falar a mesma língua que ele – explica a mãe, reproduzindo uma das lições aprendidas nestes oito meses de convívio com outras famílias.
Formação de grupo de ajuda em Canguçu
Unidas pela vontade de ver os filhos evoluírem o tratamento contra o uso de drogas, as mães Tânia e Ceni sonham com a construção de um espaço físico em Canguçu para atender grupos de auto-ajuda. Com isso, as famílias com casos de dependência química não teriam de se deslocar semanalmente até Pelotas para participar do programa que apresenta os 12 passos que ensinam a lidar com a situação dentro de casa.
Nestas reuniões, as famílias falam abertamente sobre os dramas vivenciados e as tentativas de afastar os parentes e amigos do vício. São orientações que, muitas vezes, tornam-se hábitos por parte dos freqüentadores.
Doações para ampliação da Comunidade Renascer
Para aumentar o espaço de instalação de dependentes químicos, a Comunidade Terapêutica Renascer, onde Cristiano está internado, busca doações de material de construção, como tijolos, telhas e sacos de cimento. Interessados em colaborar com o centro de reabilitação podem procurar Tânia Lessa pelo telefone (53) 3252-2475.
Próxima reportagem: a reinclusão na sociedade aos 21 anos
A próxima reportagem da série sobre o drama enfrentado pelas famílias de dependentes químicos em Canguçu contará a história de um jovem que respondeu positivamente ao tratamento e, com 21 anos, mantém uma rotina de dedicação para evitar a recaída. Ele esteve internado na Casa Amor Exigente (Caex) de Pelotas depois de consumir maconha e crack dos 11 aos 18 anos.
Fonte: cangucuonline
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