Regionalizar os serviços de média e alta complexidade e regulados de maneira a garantir o acesso aos usuários, com financiamento adequado para executar estas políticas, é um dos desafios, diante dos enormes problemas que os gestores de saúde enfrentam ao assumir a gestão de uma secretaria de saúde.
O desafio de fazer com que as redes de referência funcionem de maneira adequada não se resume à organização dos serviços disponibilizados. A Assedisa Regional da Fronteira-Oeste entende que as redes devem estar mais próximas dos municípios. “Sabemos que não se pode ter todas as especialidades dentro do Município, mas consideramos que precisamos ter esse serviço num raio de, no máximo, 200 km”, aponta a Secretária da Saúde de Alegrete, Maria do Horto Salbego.
Com conhecimento de causa, ela cita o exemplo da traumato-ortopedia de alta complexidade, serviço que mais de 500 mil habitantes em onze municípios têm que procurar em cidades como Rio Grande, mesmo que o município esteja a 500 quilômetros e não seja uma referência. “As redes funcionam com extrema dificuldade, com acessibilidade muito restrita que limita principalmente às cidades do interior”, critica. “Não temos determinados serviços que deveriam estar mais perto da nossa região, nem suporte para atender a casos mais específicos”.
A dispersão dos serviços em diversas cidades e prestadores também é um importante elemento a se considerar. Sem ter um lugar em que sejam centralizados, a necessidade do transporte de saúde pode ser aumentada, gerando gastos desnecessários às secretarias, manutenção de estrutura para o gerenciamento dos agendamentos periódicos e um vai e vem de carros, vans e ambulâncias, que se deslocam em distâncias mais curtas dentro da própria região ou mais longa, aumentando os riscos no trânsito das estradas, além de acabar contribuindo para a desorganização do sistema.
É o caso de Canguçu, que diariamente carrega pacientes para vários outros municípios, como Porto Alegre, Rio Grande, Santa Maria e Pelotas. São mais de 450 pacientes transportados toda semana para Porto Alegre e Pelotas. Têm sido um dilema enfrentar o trânsito das estradas todos os dias, com o risco de freqüentes acidentes que vem ocorrendo com os transportes de saúde do município.
Uma das soluções para esse problema, poderia ser a criação de hospitais regionais públicos, defendida pela ASSEDISA – Associação dos Secretários e Dirigentes Municipais de Saúde. Essas estruturas, a serem gerenciadas pelo Estado, ou até mesmo pelos municípios, concentrariam todos os atendimentos para a população de determinada área. Assim, a necessidade de transporte seria bastante reduzida, tendo em vista que os deslocamentos teriam, via de regra, destino certo. Além disso, com uma rede regional que realmente funcione, a necessidade de submeter os pacientes ao atendimento em Porto Alegre também seria reduzida em grande parte.
Maria do Horto é uma das defensoras da criação de “hospitais fortes regulados com a mão do Estado”, sendo gerenciados através de uma parceria entre a Secretaria da Saúde e os municípios. “O que existe hoje são hospitais filantrópicos ou privados vendendo serviços para o Sistema Único de Saúde. É necessário ter alguns hospitais públicos nas regiões para que se possa realizar investimentos de maior porte e para que seja possível dar conta dessa complexidade de modo que possamos resolver o problema de forma conjunta”, disse.
Alegrete fica a quase 500 km da capital, localizado na Fronteira-Oeste e próximo da divisa com a Argentina. A regulação, como em todos os municípios do Estado, é feita a partir da central que fica em Porto Alegre. A 10ª Coordenadoria regula algumas especialidades. Já na área de neurologia, quem atende a referência de alta complexidade é Uruguaiana, e na área da oftalmologia de média complexidade, é Rosário do Sul. “Por essa diversidade na localização dos serviços é que temos defendido a proposta de que o Plano Plurianual do Estado considere os hospitais regionais, ao menos para regiões distantes dos grandes centros, como a nossa”, diz Maria do Horto.
Contudo, ela avalia que a regulação nos últimos períodos vem se qualificando, mas ainda é deficitária por não assegurar o acesso dos municípios do interior a diversas especialidades, como neurologia e traumatologia. “O que dificulta o funcionamento da rede é que ela não é estabelecida a partir da necessidade real de cada município”, contextualiza. “Falta organização, para que a rede possa ser melhorada e qualificada a partir da estrutura existente, para que assim a logística possa existir, já que a atual não é adequada”.
Fonte: Revista ASSEDISA
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