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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

NÃO ÀS DROGAS - FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS E A LUTA PARA AFASTAR OS FILHOS DAS DROGAS

Canguçu On Line inicia série de reportagens especiais sobre casos de dependência química no Município, um mal tratado como doença pelas famílias, mas que enfrenta pré-julgamento da sociedade

O esforço para tirar os filhos do caminho das drogas uniu as mães Tânia Lessa e Ceni Aquino. Elas se conheceram durante reuniões de comunidades terapêuticas que atendem famílias com dependentes químicos, como a Renascer, situada no 9º Distrito de Pelotas. Gerente de uma loja de calçados no Centro de Canguçu, Tânia visita semanalmente o local há oito meses para debater com outras famílias, de diferentes regiões do Estado, o drama vivido em casa.

O jornal Canguçu On Line inicia nesta quarta-feira (25) uma série de reportagens especiais que vai provocar a discussão de um assunto que perturba muitas famílias: a dependência química. Grande parte daquelas que convivem com o vício pelas drogas tóxicas ainda se esforça para fechar os olhos diante do problema e, com isso, evitar o pré-julgamento da sociedade.

Hoje o filho da dona Ceni tem 32 anos. Em um passado recente, ele passou por um ano de internação na Casa Amor Exigente (Caex), instalada às margens da BR-116, em Pelotas. Agora, ele encontra-se “limpo” - gíria usada para indicar quem deixou o vício das drogas – há sete meses, e comemora o fato de estar empregado.

Com 16 anos, o filho de Tânia começou a fumar maconha. O envolvimento de Cristiano Lessa com as drogas evoluiu até o momento em que família consentiu que a rígida vigília feita sobre sua rotina não o afastava do vício.

- Por mais de três vezes o tirei de dentro de outras casas, quando estava se drogando. Nossa família, meus tios, meus irmãos, fecharam o cerco contra ele. O seguíamos de carro ou de moto à noite até os locais que costumava se reunir com outros usuários – revela Tânia.

No entanto, depois que foi promovido na empresa onde trabalhava e passou a morar sozinho em um apartamento em Pelotas, ficou mais fácil para o jovem driblar a vigília dos pais. As aulas do curso superior de Análise de Sistemas deixaram de ser importantes. Da maconha, ele passou a experimentar cocaína e se perdeu ainda mais. Foi a mudança de comportamento que chamou a atenção da mãe e do pai, Rui.

- Ele (o filho Cristiano) teve duas recaídas com a cocaína. Quando isso acontecia, ele dormia direto. Durante três dias, não levantou. Ficava com poças de sangue nos olhos e as narinas vermelhas – diz a mãe, ao recordar de um dos momentos em que flagrou o filho sob o efeito de drogas.

As tentativas de conversa para buscar tratamento para o filho acabavam em poucos minutos. O jovem não aceitava o pedido, e dizia que a mãe via situações que não existiam, e ainda colocava-se à disposição para fazer exames médicos. Dizia que “era só maconha”, o que considerava “menos ofensiva que um cigarro”. O diálogo sempre se encerrava com a palavra de Cristiano, que dizia estar tudo bem.

Mesmo assim, o sentimento de mãe não deixava Tânia se enganar. As vistorias pela casa á procura de drogas e sinais de comportamento do filho tornaram-se rotina.

- Ele nunca se atreveu a levar nada (de drogas) para dentro de casa. Eu era como um cão farejador, revisava tudo dentro dos quartos, da garagem. Ele tinha que esconder muito bem, senão eu encontrava – diz Tânia.

Em dezembro do ano passado, já com 23 anos, o processo de recuperação de uma fratura no pé não impediu Cristiano de correr atrás do vício pela cocaína. Contudo, foi a primeira vez, depois de sete anos consumindo drogas, que ele procurou os pais e pediu ajuda para iniciar o tratamento de reabilitação.

Há dois meses internado na Comunidade Terapêutica Renascer, Cristiano se comunica todas as terças-feiras com a família por cartas. No entanto, o primeiro contato demorou 15 dias, até que o dependente químico decidiu escreveu aos pais. Com ansiedade, a família aguarda a chegada do segundo domingo de cada mês. É a oportunidade de visitar o filho na Comunidade, embora o período de contato seja limitado a sete horas .

A evolução no comportamento de Cristiano anima Tânia. Segundo ela, os coordenadores da Renascer dizem que ele não mostra mudança de humor, nem sinais de depressão, o que seria comum neste começo. A busca por tratamento exige disciplina e persistência. Em dois meses convivendo com o grupo, Cristiano já presenciou a desistência de outros 12 dependentes químicos, que fugiram a pé do local.

A previsão é de que ele permaneça na Comunidade Terapêutica Renascer por 12 meses. Caso seja necessário, o período pode ser estendido para 15 meses. A dedicação da família é apontada como fundamental para a recuperação do filho.

- A família precisa freqüentar o grupo de ajuda. Ela assume uma doença que é a co-dependência e também precisa de tratamento. Os familiares precisam saber lidar com o dependente químico, aprender a falar a mesma língua que ele – explica a mãe, reproduzindo uma das lições aprendidas nestes oito meses de convívio com outras famílias.

Formação de grupo de ajuda em Canguçu
Unidas pela vontade de ver os filhos evoluírem o tratamento contra o uso de drogas, as mães Tânia e Ceni sonham com a construção de um espaço físico em Canguçu para atender grupos de auto-ajuda. Com isso, as famílias com casos de dependência química não teriam de se deslocar semanalmente até Pelotas para participar do programa que apresenta os 12 passos que ensinam a lidar com a situação dentro de casa.

Nestas reuniões, as famílias falam abertamente sobre os dramas vivenciados e as tentativas de afastar os parentes e amigos do vício. São orientações que, muitas vezes, tornam-se hábitos por parte dos freqüentadores.

Doações para ampliação da Comunidade Renascer
Para aumentar o espaço de instalação de dependentes químicos, a Comunidade Terapêutica Renascer, onde Cristiano está internado, busca doações de material de construção, como tijolos, telhas e sacos de cimento. Interessados em colaborar com o centro de reabilitação podem procurar Tânia Lessa pelo telefone (53) 3252-2475.

Próxima reportagem: a reinclusão na sociedade aos 21 anos
A próxima reportagem da série sobre o drama enfrentado pelas famílias de dependentes químicos em Canguçu contará a história de um jovem que respondeu positivamente ao tratamento e, com 21 anos, mantém uma rotina de dedicação para evitar a recaída. Ele esteve internado na Casa Amor Exigente (Caex) de Pelotas depois de consumir maconha e crack dos 11 aos 18 anos.
Fonte: cangucuonline

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